Deixei de ouvir músicas que gritavam em suas letras a palavra
saudade e comecei a ouvir músicas como reggae e rap, ritmos que tinham a letra
R de realidade. Deixei os óculos de grau em casa e comecei a andar sem, vendo o
que os meus olhos enxergavam. E se eu não vejo o que está distante, então é
porque eu não preciso enxergar. É papo furado tentar buscar o que está distante
se você nem consegue dar o primeiro passo pra chegar. A vida nunca foi uma
necessidade, sempre foram escolhas. Umas boas e outras nem tanto. As boas
escolhas deixaram marcas, as ruins fizeram essas marcas machucarem. Sempre me
fiz entender, sempre fui direto pra falar das coisas que eu queria, dos planos
que eu tinha e procurava viver. Mas eu não enxergava, só imaginava. Eu
imaginava enquanto esperava que o que eu queria fosse chegar. Acreditei que se
eu esperasse tempo o suficiente algo de bom aconteceria. Algo tão bom que a
espera fosse valer a pena. Mas o que aconteceu foi ver o tempo passar e se
houve mudança, foi dos anos que ganhei na idade e verdades que eu não queria
enxergar. Porém começar a enxergar me fez acordar para a minha realidade. E a
minha realidade não tem nada do que eu gostaria de ter. O pouco que eu tenho eu
lutei pra também não perder. Perdi tempo demais na espera do que não viria,
porque esperar parecia tão certo como acreditar que você voltaria.
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